Se me tivessem perguntado se Berlim estava no topo de viagens para fazer nos próximos tempos, a resposta tinha sido não. No entanto temos um amigo lá emigrado, as coisas alinharam-se e Berlim acabou por subir na minha lista quase sem querer. Os meus bilhetes de avião foram comprados durante um turno da noite depois de confirmar que conseguia as trocas no trabalho para conseguir ir. Só para entenderem o nível.
A nossa estadia em Berlim foi muito curta. Tivemos apenas 3 dias inteiros para explorar uma das maiores cidades da Europa. O combinado foi não fazer grande roteiro (tirando pontos que eram mesmo muito importantes para mim) e ver onde a cidade nos levava nesses três dias. E assim foi.
COMO ME DESLOCAR EM BERLIM?
Berlim é uma cidade plana. Portanto vão dar por vocês e vão ter quilómetros nas pernas porque se fartaram de andar. No entanto é também a cidade com a melhor rede de transportes públicos que já vi na vida. Os meios de transportes que mais utilizámos foram o metro e o comboio: nunca tivemos de esperar mais de cinco minutos entre metros (mesmo no fim-de-semana) e o comboio meteu-nos no aeroporto em trinta minutos.
Nós optámos pelo Berlin CityTourCard que dá para viagens ilimitadas no período que comprarem (2, 3, 4, 5 e 6 dias) em todos os transportes. Só têm de picar o bilhete uma vez e não têm de se preocupar mais. Convém manterem o bilhete convosco no caso de haver fiscalização. Este cartão tem ainda duas vertentes: só para a área metropolitana de Berlim ou para a área metropolitana de Berlim e Postdam. Nós acabámos por comprar o último. Uma viagem de metro em Berlim pode custar entre €3,00 e €3,80 (dependendo das zonas).
ONDE FICAR HOSPEDADO EM BERLIM?
Sobre isto não tenho muito a dizer porque ficámos hospedados na casa dos nossos amigos em Friedrichsfelde. Mas não se esqueçam que quanto mais perto do centro, mas caro fica. E tendo em conta que a linha de transportes na cidade é mesmo muito boa… desde que fiquem perto de uma paragem de S-Bahn, U-Bahn ou autocarro, ficam bem!
Mas como opções boas têm o The Student Hotel Berlin (€€€€) e o Monbijou Hotel (€€€€) que são muito centrais.
O QUE FAZER EM BERLIM?
E este é o nosso roteiro improvisado. A maneira como organizámos os nossos dias de forma a vermos o máximo que queríamos mas não ficarmos ridiculamente cansados.
DIA 1: PORTAS DE BRADENBURGO, ALEXANDERPLATZ, MUSEUMSINSEL
Acho que qualquer visita a Berlim que se preze tem de começar pelas Portas de Bradenburgo. É uma das antigas vias de entrada de e para Berlim que tem vários factos interessantes associados. Por exemplo: sabiam que a quadriga que está no topo da construção foi roubado pelo exército de Napoleão? Que foi das poucas coisas que se tornaram terra de ninguém depois da construção do Muro em 1961? E que depois também serviu como palco principal quando esse mesmo muro caiu em 1989?
Na zona das Portas de Bradenburgo têm muitas coisas interessantes para ver como o Reichtag (que podem marcar uma visita gratuita à cúpula se marcarem com antecedência), um memorial às vítimas Sinti e Roma do Social Socialismo e o Großer Tiergarten que é o parque mais antigo e maior de Berlim que culmina com a Siegessäule.
Depois disso, passem pela Alexanderplatz que é considerado o centro da cidade e onde podem encontrar um relógio mundial que existe desde 1969. Aqui vão conseguir ver algumas coisas interessantes: uma delas a torre da televisão (Fernsehturm) que se vê basicamente de todos os pontos de Berlim (e podem lá almoçar ou jantar) e a Fonte de Neptuno.
Da Alexanderplatz saem as grandes avenidas construídas durante a época comunista. Vale a pena destacar a Karl-Marx-Allee, uma avenida onde é possível apreciar a arquitetura soviética.
Por fim podem — e devem! — dar um pulo à Museumsinsel (Ilha dos Museus). Não façam como nós que dissemos que “logo íamos visitar os museus no fim-de-semana” porque eles fecham. Aliás, as coisas estatais em Berlim fecham relativamente cedo, por isso planeiem de acordo. Esta zona de Berlim tem este nome por abrigar cinco museus renomados mundialmente. Podem comprar um passe para a Museumsinsel por €29,00 (em vez de €10,00 por cada entrada individual em cada um dos cinco museus). Queria ter ido ao Pergamonmuseum e ao Neues Museum. Vai ter que ficar para a próxima.
Aqui, e entre os museus, também têm a Berliner Dom. Que foi construída em 10 anos!
DIA 2: MURO DE BERLIM, POSTDAMER PLATZ, EAST SIDE GALLERY
Para além das Portas de Bradenburgo, a outra coisa que tinha na lista que não podia deixar de ver era — obviamente — o Muro de Berlim. E assim foi. O nosso segundo dia foi dedicado a explorar esta parte da história germânica.
Começámos pelo Checkpoint Charlie, que foi o ponto de passagem mais conhecido dos utilizados durante a Guerra Fria. Depois da construção do Muro de Berlim, restaram poucas fronteiras através das quais os cidadãos pudessem usar para se deslocar entre as duas Alemanhas e este era o principal ponto de acesso.
Aqui foi o sítio onde conseguimos ainda ver as diferenças entre as Alemanhas (mesmo trinta anos depois). Se olhássemos para o chão, conseguíamos perceber através de placas de metal incrustadas na calçada e fileiras de calçada onde o muro passava e como essa divisão foi feita. Aproveitámos e visitámos também um museu — gratuito! — chamado Black Box Cold War que explica como tudo começou e tem um pedaço dos últimos muros utilizados para separar a população para vermos a altura, a largura e como um pedaço de cimento (que nem era assim tão forte) separou uma nação.
Não contentes, continuámos a andar para ir dar a outro museu gratuito e a céu aberto: Topographies des Terrors. Recomendo que este visitem com tempo, porque vão ter muita informação para ler e absorver e o caminho ainda é extenso.
É aqui que vão encontrar o maior pedaço conservado de Muro de Berlim tirando o da East Side Gallery.
Andando, trotinetando e andando outra vez, chegámos à Postdamer Platz porque estávamos esfomeados. A Potsdamer Platz, uma das praças mais importantes de Berlim no passado, ficou arrasada durante a Segunda Guerra Mundial e dividida em duas pelo Muro de Berlim. Hoje em dia, a praça está completamente reformada e é agora uma ode à arquitectura moderna.
Ao fim do dia, quando o sol já estava posto, rumámos até à East Side Gallery, aquilo que a maioria das pessoas considera o Muro de Berlim. São 1,3km de arte. Entre eles têm o icónico Fraternal Kiss. Ao contrário do que muita gente pensa, o Muro de Berlim foi construído em quatro fases e inicialmente era só uma vedação de arame farpado que culminou no muro como o conhecemos.
DIA 3: MAUERPARK, MEMORIAL AO HOLOCAUSTO
O último dia foi reservado para ser um dia mais tranquilo. Não tínhamos grandes planos. Andámos pelos bairros, encontrámos um café português, acabámos por ir ao brunch (que é relativamente diferente do brunch que temos cá) e, durante a tarde, fomos até ao Mauerpark.
O Mauerpark é uma zona que foi reabilitada em Berlim depois da queda do muro, onde existem muitos artistas de rua ao fim-de-semana (fomos ao Domingo), tem uma zona verde imensa e, caminhando, vimos mais exposições a céu aberto sobre a vida na cidade nessa altura.
Depois dessa tarde bem passada, fomos até ao Memorial ao Holocausto e foi uma experiência que me tornou mais humilde. Tanto que acabei por escrever no Instagram um resumo da minha experiência naquele memorial:
“Nunca pensei muito em liberdade porque, sinceramente nunca senti que não o fosse. Tirando algumas situações pontuais, nunca fui impedida de fazer nada daquilo que queria fazer. Nunca pensei em liberdade até entrar no monumento aos judeus em Berlim. Visto de fora parece relativamente inofensivo. Mas à medida que andamos, que os blocos de cimento vão ficando maiores, que começamos a ficar mais confusos, claustrofóficos e sem saber para onde virar para ver a luz ao fim dos túneis (literalmente), não podemos deixar de pensar na quantidade absurda de sorte que temos porque nascemos no País certo, na altura certa. A andar por estes caminhos compostos de altos e baixos senti mesmo que me estava a afogar e transportei-me de forma muito arcaica (porque podemos sempre só imaginar o que foi, mas nunca como foi na realidade) para esta época de total opressão.
Senti um peso a sair-me de cima quando descobri a saída. E uma sortuda. E também uma mulher mudada. Nunca tinha pensado muito sobre a liberdade porque nunca me senti (totalmente) oprimida e é fácil esquecer quando não nos toca. Mas se calhar devia começar a pensar mais nisso porque ainda não somos todos iguais.”
Espero que este roteiro vos ajude a ter uma viagem incrível a Berlim e, se já foram à cidade, deixem nos comentários os vossos must see e must do!
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