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nurse life, pessoal · 18/04/2020

Enfermeira em tempos de COVID-19

Estamos mais ou menos há um mês em estado de emergência em actuação. Mas claramente nenhum de nós está a contar.

No geral a minha vida normal manteve-se… só porque (ainda) saio de casa para trabalhar e fui ao supermercado uma vez em três semanas. No entanto sou enfermeira. Tenho estado calada, atrás das linhas, sobre este assunto do COVID-19 mas, chega a uma altura em que é difícil ficar calada. Chegou essa altura para mim. Fazemos esta profissão sempre com a ideia que algo pior pode acontecer, isso nunca nos abandona, mas julgamos que isso acontece trinta vezes por turno. Nunca, em tempo algum, pensei ser enfermeira em “tempo de guerra”. 

Nunca, em momento algum, prepararam-me para uma pandemia. Na faculdade falámos em hipotéticos e em casos que já tinham acontecido há dezenas de anos. Falámos sobre o que acontece. Não falámos sobre o nosso papel nisto tudo. Ninguém pensa nisso. É o worst case scenario de todos os Países mas, cá estamos.

Nada nos prepara para isto. Nada nos prepara para estarmos a viver com as nossas liberdades condicionadas. Nada nos prepara para vivermos em sociedade desta forma e, se calhar por nada nos preparar para isto é por isso que estamos assim. Arrepia ver as ruas vazias. 

Uma das piores coisas que estamos a viver é a incerteza. Estamos todos no mesmo barco sem saber qual é o dia de amanhã. No Hospital, sempre que vou fazer turno, já mudou tudo, de um dia para o outro. Não trabalho num serviço de urgência nem nas unidades críticas que estão a receber estes doentes, não. Mas trabalho num serviço igualmente crítico.

Vamos, todos os dias, trabalhar com o coração nas mãos. Com o nível de ansiedade a mil. Com todos os cuidados e mais alguns. No serviço tenho, a meu cargo, duas vidas de cada vez (mãe e bebé) multiplicado pelas vezes que tiverem de ser. No meu serviço temos de ser colo e ombro amigo.

Continuam a nascer bebés no meio desta pandemia. E isso é tanto uma luz ao fundo do túnel como uma adaga no nosso coração já pequeno e apertado pelos nossos. Ser enfermeira é ter a capacidade de nos pormos no lugar dos outros mas, é rara a vez que se põem no nosso. 

O Hospital onde trabalho, nos últimos tempos, tornou-se num sítio onde funcionam poucos serviços: urgências, neonatologia, bloco de partos e internamento de obstetrícia. O outro, a grande fatia, é internamento para COVID. Trabalho na ala da vida, enquanto há pessoas a ser vigiadas numa ala em que a taxa de mortalidade não sendo por ai além, é alarmante.

Temos todos a vida em suspenso. Parece que é asneira e ilegal pensarmos em alguma coisa que não seja esta pandemia. Tenho novidades incríveis para partilhar com os meus, mas nem as consigo celebrar porque parece sempre descabido. Tenho fotografias das férias para partilhar, mas é impróprio porque deveríamos estar todos em casa.

Isto de estar no epicentro da acção o que tem de bom, tem de mau. Se calhar escolhi a profissão errada porque nunca pensei estar a viver isto mas, na verdade, não me imaginava a fazer mais nada. Temos medo mas seguimos firmes. Estamos ansiosas mas sorrimos.

Saio de casa com um nível de ansiedade tal que só me apetece desatar a chorar para conseguir ir fazer o que escolhi e tratar daqueles que não conseguem tratar deles no momento. Já disse: vou com medo. Mas vou com um sorriso (mesmo que neste momento esteja atrás de uma máscara). Vou com a motivação possível fazer companhia às minhas companheiras de batalha que também deixam tudo à porta do serviço. Estamos todas para o mesmo.

Já disse que sou enfermeira, mas não disse que estou chateada. Estou chateada por as pessoas saírem de casa para irem para o paredão quando a indicação é ficar em domicílio o mais possível. Estou aborrecida com o gozo perante esta situação que muitas pessoas fazem para mostrar o chicho-espertismo que tanto odeio. Estamos exaustos. Queríamos ficar em casa também mas não podemos.

Mas isto não é sobre mim, é sobre todos. Odeio estar a repetir o que toda a gente já disse, mas sejam civilizados. 

A melhor homenagem que nos podem fazer é cumprir aquilo que vos dizem. Não queremos palmas porque no fim esperamos todos conseguir aplaudir, como iguais, o esforço e trabalho de equipa.

A LER: A Vida no Covidário: Somos todos heróis, mas há uns mais que outros…

“However bad life may seem, there is always something you can do and succeed at. Where there’s life, there’s hope.”

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Publicado em: nurse life, pessoal

Comentários

  1. Beatriz Ribeiro diz

    19/04/2020 em 10:56

    Muito força!

    Responder
    • Ana Garcês diz

      24/04/2020 em 18:02

      Obrigada, Beatriz!

      Responder
  2. Inês Martins diz

    20/04/2020 em 21:25

    Obrigada por aquilo que fazes por todas as mães que te chegam e pelos seus bebés. E força para continuar esta luta.

    Um beijinho gigante,
    https://inescm2.blogspot.com/

    Responder
    • Ana Garcês diz

      24/04/2020 em 18:02

      Seguimos todos fortes, é o que interessa!
      Beijinhos!

      Responder
  3. Carolayne T. Ramos diz

    23/05/2020 em 14:22

    E por muito tempo que passe, é bom que nenhum de nós se esqueça, em momento algum, do vosso trabalho! Muito obrigada! ♥

    LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST

    Responder
    • Ana Garcês diz

      04/06/2020 em 21:35

      Obrigada eu, por seres um ser humano incrível <3

      Responder

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ISBN: 9781474921329
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Ando há uns dias a tentar perceber como escrever Ando há uns dias a tentar perceber como escrever esta publicação. Não é nada de mal (antes pelo contrário) mas é difícil. É difícil porque despedi-me do sítio onde estava e abracei outro desafio profissional.

Podia fazer uma lista de tudo o que havia de mal no sítio onde estava e que me fez querer sair, mas sinto que não ia acrescentar nada. Toda a gente tem os seus motivos para se manter (ou sair) dos sítios e das situações e não é preciso meter mais o dedo na ferida. Os meus motivos são os meus motivos e, no fim do dia, apesar de ter sido uma decisão que me deixou o coração do tamanho de uma ervilha pelas pessoas que por lá deixo… foi a melhor coisa que consegui fazer por mim.

Saio dali só com as memórias boas (que foram tantas!) e esquecer aquilo que não me acrescenta. Saio mais crescida.

O serviço de obstetrícia de onde saio foi o primeiro serviço que me acolheu fresca e acabadinha de sair da faculdade. Ao longo destes três anos, trabalhei 5790h ao lado das minhas colegas. Passei mais tempo entre aquelas quatros paredes do que na minha própria casa. Elas foram a minha segunda família quando não tinha a minha perto de mim para me dar o colo que precisava.

Deixo aquele serviço sem certezas de nada. Não sei se vai ser melhor para onde vou, mas diferente vai ser de certeza. E às vezes é só isso que precisamos. Que se lembrem que as pessoas merecem ser felizes no local onde trabalham.

Vou ter saudades de muita coisa e deste sítio que me deu estofo como enfermeira, sobretudo das pessoas. Vou sentir falta das rotinas já conhecia, dos cantos à casa que já sabia de cor e dos nomes que não tinha de me concentrar para me lembrar. Mas não vou ter saudades dos abusos.

Obrigada, a todas, por me tirarem o medo, mas nunca me terem tirado a voz. Obrigada por gostarem muito de mim, por me deixarem crescer de forma graciosa e completa, por me verem como sou e por me deixarem ser. Por me terem limpo as lágrimas muitas vezes e ajudado nas minhas dores tantas outras.

Continuarei a ser a Ana do puerpério (mas agora noutro serviço) porque é mesmo aquilo que gosto de fazer. Vou é espalhar as minhas purpurinas para outro lado ✨

Da vossa sempre, e (agora) elfo livre,
Enfª Ana
A fotografia oficial das vinte e nove voltas ao so A fotografia oficial das vinte e nove voltas ao sol — com um bolo improvisado de panquecas, brunch, companhia de quem mais gosto e, no geral, um dia muito muito feliz.

Gosto muito de nascer em Junho — 10/10 recomendariam 😂

Que este último ano dos vintes sejam tudo aquilo que quero deles, até agora já tem sido — e só tenho 29 anos há 48h 😌
A dar o pontapé de saída no meu primeiro dia de A dar o pontapé de saída no meu primeiro dia de férias com uma fotografia — em analógico — da minha última viagem: Milão. Não resisto 😌
12 DE MAIO E O DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO Pa 12 DE MAIO E O DIA INTERNACIONAL DO ENFERMEIRO

Parece um bocadinho ridículo, mas se me perguntarem o que me via a fazer na vida sem ser enfermeira, a minha resposta provavelmente seria “nada”. É estranho porque tenho inúmeros interesses mas sempre que penso em estudar outra coisa que não isto, não consigo ver-me nesse papel. No de enfermeira sempre me vi.

Tenho uma série de defeitos, no entanto os que não me faltam são a boa disposição, o saber que dou o que tenho e não tenho para prestar os melhores cuidados possíveis e o saber que, no fim do dia, fiquei satisfeita com o que fiz.

Gostava de não trabalhar tanto. Que me respeitassem mais. Que me remunerassem melhor tendo em conta a responsabilidade que tenho em mãos. Gostava também de reclamar menos, mas vou continuar a reclamar sempre que encontrar alguma coisa com que não concordo. Porque acredito que esta enfermagem de nova geração vai trazer uma mudança bem precisa ao panorama. 

Vou aprendendo a ser um bocadinho melhor enfermeira todos os dias graças à equipa que tenho comigo, aos que já se foram do meu serviço, aos neonatologistas e também às obstetras. Estes dois últimos a prova que confiam nas nossas tomadas de decisão em equipa multidisciplinar para atingirmos os melhores resultados para aquela mãe e bebé. Tenho sorte, muita!

Não sei se vou ser enfermeira para o resto da vida, mas enquanto os pontos positivos ganharem sobre os pontos negativos vou continuar a batalhar por isto, porque acho que vale a pena. Tão certo como continuar a usar meias com padrão (e criar todo um movimento) e ter as canetas mais pirosas do meu serviço ao ponto de toda a gente saber que são minhas. 

Só precisamos que nos oiçam, que não queremos prejudicar ninguém — antes pelo contrário.

Aos colegas, aos aspirantes e aos simpatizantes — obrigada por tudo! Obrigada pelos ensinamentos que transmitimos uns aos outros. Peço desculpa pelas faltas nos eventos importantes, por passar mais tempo a dormir que acordada, por ter rotinas estranhas e comer a horas impróprias. Mas não me vejo mesmo a fazer outra coisa ❤️
Gosto de andar de comboio e sair no Estoril. Mais Gosto de andar de comboio e sair no Estoril. Mais não seja para ver isto muitas vezes 😌
Que nunca nos falte Abril 🌹 Que nunca nos falte Abril 🌹
Uma coisa que gostei de fazer com o @mario_monginh Uma coisa que gostei de fazer com o @mario_monginho quando fomos a Berlim foi desafiá-lo a andar com uma máquina fotográfica analógica e registar as coisas através dos olhos dele — da mesma forma que eu fiz com a minha. Comprámos um par de máquinas numa loja chamada DB e que custaram €5,99 cada uma e… não só adorei as cores como os resultados.
Este foi um dos registos que o Mário fez, à saída da casa do @iuriportalegre e da @_melinxiaoxue_ no último dia lá e que mais gostei. Não sei porquê mas há qualquer coisa nesta fotografia! E uma das coisas que gosto da fotografia analógica é não só os momentos cândidos que apanha, como também a nossa vontade de os registar de forma orgânica!

Em breve conto-vos mais sobre isto!

📷: @mario_monginho

 

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