Os especialistas dizer que as dores de crescimento ocorrem em crian??as em idade pedi??trica (normalmente at?? aos treze anos) mas a isso s?? tenho a dizer uma coisa: tretas.
As verdadeiras dores de crescimento ocorrem depois, quando o Mundo come??a a tornar-se um s??tio confuso e em que as nossas decis??es deixam de se basear com qual das Barbies vamos brincar hoje e passam a envolver carreiras. Crescer n??o ?? f??cil e ser adulto ?? um bocadinho chato. ??bvio que todas as fases da nossa vida t??m coisas boas e coisas m??s…mas dores de crescimento a s??rio n??o t??m s?? a ver com dores ??sseas ou musculares e a nossa preocupa????o em saber se vamos crescer mais um bocadinho ou se estamos a sofrer por nada.
As verdadeiras dores de crescimento come??am quando aquele tipo pelo qual voc??s estavam enamoradas quando tinham dezassete anos vos parte o cora????o e voc??s juram que nunca mais v??o ser a mesma pessoa (fica aqui uma novidade: n??o v??o mesmo, mas isso n??o ?? mau), quando se esfor??am ao m??ximo e mesmo assim n??o conseguem atingir os vossos objectivos, quando se v??m numa encruzilhada e n??o sabem que caminho escolher, quando d??o por voc??s a pensar que a vida est?? equilibrada e, de repente, muita coisa muda. Essas s??o dores de crescimento. Se calhar n??o aprovadas por m??dicos mas, ainda assim, dores.
Falando por mim: eu sou uma pessoa que se demora a adaptar a mudan??as bruscas. Sobretudo se elas vierem todas ao mesmo tempo. N??o tenho essa capacidade, nunca tive. Preciso de receber as not??cias, marin??-las no c??rebro e come??ar a aceitar devagarinho que vai acontecer. Quando entrei na Faculdade n??o tive esse luxo e a ficha s?? acabou por me cair no fim do segundo semestre e consigo dizer que foi um per??odo complicado. E ?? assim que anda a minha vida: a tentar lidar com as dores de crescimento que estar na Faculdade implica.
Em dois semestres tive duas casas. Boas mem??rias em ambas, mas mais m??s que boas da primeira. Nessa invadiram a minha privacidade de tal forma (e t??o violenta) que tinha medo de entrar em casa. N??o voltei l??. Foi aqui que apareceu a segunda, para onde n??o fui sozinha e onde fui muito feliz. Mas a verdade ?? que tamb??m recebi a not??cia que tinha(mos) de sair daquela casa porque enquanto eu vou voltar a ??vora para mais um ano (que na sua maioria vai ser passado longe ?? conta dos est??gios) o trabalho chama-o para Lisboa. N??o eram esses os nossos planos, de todo. E demorei um bocadinho a aceitar que isso ia ser uma realidade. N??o ?? uma coisa f??cil de se fazer quando os nossos planos estavam tra??ados para outro caminho.
Apesar de j?? ter arranjado uma casa nova para o ano lectivo que se aproxima a passos largos e com colegas de casa espectaculares continuo um bocadinho emocional por abandonar aquela casa onde fomos t??o felizes. Onde uma vez a torneira da cozinha me ficou nas m??os e eu apanhei um banho at?? algu??m chegar a casa porque n??o sabia onde se desligava a ??gua. Onde a Triz caiu nas minhas escadas e n??s come????mos as duas a rir ?? gargalhada. Onde senti finalmente que a vida fazia sentido e onde cri??mos uma pequena fam??lia com direito a dois c??es (um nosso e outro dos nossos colegas de casa).
Foi a nossa primeira casa. Onde rimos muito, chor??mos (mas n??o tanto), onde crescemos como pessoas individuais e casal. Onde tivemos a certeza que sim, senhor, isto faz sentido. Estamos oficialmente fora daquela casa h?? dois dias. E sempre que passar naquela rua vou olhar para o n??mero tr??s e vou-me lembrar de tudo: o bom, o mau, o absurdo e o rid??culo. Vou-me lembrar da romaria de pessoas b??bedas que paravam sempre naquela rua e achavam que era porreiro fazer um arraial ??s cinco da manh??. Ou das vezes que estava ?? varanda e recri??vamos aquela cena m??tica do Romeu e Julieta.
Isto s??o as verdadeiras dores de crescimento. Quando percebemos que ??s vezes os nossos planos iniciais t??m de ser adiados um bocadinho porque outras coisas importantes se imp??em nas nossas vidas, quando ambas as partes t??m de ceder para fazer o outro feliz porque ?? assim que as coisas funcionam. Quando temos de encontrar o nosso novo normal. Mas depois disto tudo sinto que tudo vai correr bem, porque segundo a Cat “voc??s t??m imensa qu??mica e cumplicidade e isso sente-se a milhas” e eu acredito porque sinto. E, se calhar mais importante ainda: for the two of us, home isn’t a place. It is a person. And we are finally home.
Eu sei que ainda vou ter muitas dores de crescimento ao longo desta vida, mas n??o quer dizer que goste delas. No entanto elas n??o acabam – de todo – aos treze anos. Arrisco-me a dizer que ?? quando elas come??am.
Bruna Reis diz
Brilhante! 🙂
Catarina diz
vai custar sempre crescer. mas vamos aprendendo a tentar minimizar a dor… voces s??o capazes de tudo, acreditem naquilo que vos une.
Sofia Garrido diz
That's the spirit, Ana!
J?? lidei com dist??ncia nesse tipo de circunst??ncias e sei como podem doer essas "dores de crescimento". H?? que tentar ter sempre presente, depoiss do choque inicial e da aceita????o, porque se fez essa ced??ncia e se continuam a fazersacrif??cios. Valem muito por cada segundo quando essa dist??ncia se quebra! 🙂
Que corra tudo bem!
Beijinhos,
—
Sofia |??Monochromatic Wave
Ela e Ele Ele e Ela diz
N??o pod??amos concordar mais. Dizem-nos que a vida n??o ?? f??cil, mas n??o nos preparam para adversidades t??o dif??ceis…
Mas vai tudo correr bem. Aproveitar??o melhor o tempo que tiverem juntos. N??o, n??o ser?? nada f??cil, mas v??o saber lidar, umas vez melhor que outras. Falamos n??s que ainda que vivamos juntos, s?? nos vemos na hora do "boa noite, vou dormir". Trabalhamos no mesmo s??tio, mas quando um chega, o outro sai. Quando um folga o outro trabalha e quando folga o outro vice-versa. N??o ?? nada f??cil, mas com amor tudo se faz! 🙂 For??a!
Carolayne R. diz
Mas que texto genial e t??o sincero! Acredito que h?? de chegar a uma altura em que as dores deem tr??guas! ?? apenas esperar para ver.
A Vida de Lyne
Sara Cabido diz
E doem. Doem muito. Adorei este artigo, talvez porque ??? ?? primeira vista ??? pensei que fosse a Ana-Enfermeira a escrev??-lo (assumi que ia ler alguns termos cl??nicos e cenas de agulhas!). Mas a verdade ?? que me deparei com a Ana-Menina-Mulher, que escreve ??? e f??-lo t??o bem ??? de uma forma linda de se ler. Dizer que "tudo vai correr bem, isso passa, o tempo cura" ?? do mais trivial que pode haver. Mas, infelizmente, ?? verdade. Crescer d??i mas faz-nos mais fortes, permite-nos criar novas hist??rias e um passado rico, n??o-mon??tono. O importante ?? que voc??s s??o, como a Cat diz, lindos 🙂 por isso t??m tudo para dar certo. Aqui, ali ou na China.
Sara Cabido | Little Tiny Pieces of Me