Quando ?? que deixamos de pertencer a um lugar para come??ar a pertencer a outro?
Desde que entrei para a Faculdade e me vi longe da realidade que tinha conhecido a minha vida toda comecei a pensar muito nisto.
Em vinte e dois anos sinto que pertenci (e ??s vezes ainda perten??o) a tr??s lugares, e cada vez mais tenho a sensa????o que, por onde quer que passe, deixo sempre um bocadinho de mim nesse s??tio mas tamb??m levo um bocadinho desse s??tio dentro de mim.
Come??ou na Madeira: aldeia pequena com a casa da minha av?? virada para o mar. N??o tenho grandes mem??rias desses tempos mas sinto uma saudade – aquele sentimento bem portugu??s – sempre que cheiro a maresia ou vejo as ondas a bater. N??o consigo evitar e parar de fazer compara????es entre o mar de c?? e o mar de l??. O que significa para mim. O que me faz pensar.
?? um sentimento estranho saber que quase tudo de n??s tem saudades de um s??tio que nunca realmente foi nosso e que, sempre que l?? regressa, encontra uma felicidade t??o f??cil e t??o genu??na como se de l?? nunca tiv??ssemos sa??do e pertenc??ssemos tanto como as ??rvores do Jardim Bot??nico. N??o ??, no entanto, um s??tio que me sirva por inteiro.
Depois veio o Algarve: numa cidade hist??rica com um castelo no topo com uma atmosfera um bocadinho buc??lica. Foi aqui que me tornei adolescente e depois jovem adulta e que me apercebo que foi aqui que fui completamente miser??vel e ridiculamente feliz (n??o ao mesmo tempo que isso era um bocadinho esquizofr??nico). Viver no Algarve endureceu-me, n??o muito (porque ainda sou basicamente um marshmallow) mas o suficiente. Foi aqui que aprendi a lidar com tudo aquilo que podia correr de mal na vida de uma pessoa, em que me apercebi que tenho mais estaleca do que parece e em que me tornei grande parte do que sou hoje.
??vora veio depois e foi o meu ponto de viragem. Foi aqui que me apercebi que a roupagem da minha cidade no Algarve j?? me ficava um bocadinho apertada demais como aquela camisola pirosa que s?? usamos no Natal – ?? sempre bom voltar a vesti-la mas passado algum tempo come??a a tornar-se desconfort??vel. Apercebi-me tamb??m que o s??tio onde vivia antes me estava a limitar e que eu j?? n??o iria conseguir crescer mais se por l?? continuasse. Que sempre que l?? regresso a minha luz se apaga um bocadinho e eu sou apenas uma concha daquilo que poderia ser se n??o me sentisse limitada pelo s??tio, pelas pessoas e pelas mem??rias (tanto boas como m??s). ?? do cara??as termos uma realiza????o destas quando menos esperamos.
Quando ?? que se deixa de pertencer a um lugar para pertence a outro? N??o se deixa. Somos sempre de todos os lugares. De uns mais que outros, mas sempre de todos – vamos pertencendo – mas aquela camisola nunca mais nos vai voltar a servir totalmente.
Joana Sousa diz
Oh p??, que texto bom de ler <3 eu, que nunca sa?? da minha concha, invejo-te. Deixar um bocadinho de n??s em v??rios s??tios n??o nos divide – faz de n??s maiores. E tu ??s gigante, porque n??o deixas um bocadinho de ti s?? nos s??tios, tamb??m deixas nas pessoas! *
As Coisas Dela diz
?? medida que o tempo vai passando n??s vamos pertencendo a mais lugares e mais lugares pertencem a n??s!
Joana Clara diz
Dos textos mais bonitos que li nos ??ltimos tempos! <3
Raspberry diz
Concordo contigo quando dizes que somos de todos os lugares por onde passamos, mas mais de alguns do que de outros. Eu desde que me mudei para Inglaterra n??o sei a que local perten??o mais, mas sei que cresci mais aqui em dois anos do que em todos os outros em que vivi. No entanto, continuo a pertencer quer l?? quer aqui e a todos os locais por onde fui passando.
Juliana Oliveira diz
Gostei muito do texto.
Seja onde for, n??s pertencemos a lugares diferentes e esse lugares ficam sempre registados.
http://diaryofalittlebee.blogspot.pt/
Style And Life by Marta diz
Que post t??o bom! Eu sempre vivi em Alcoba??a mas para o ano vou para a faculdade e vai ser tamb??m um post de viragem na minha vida. Vou sair da minha zona de conforto e experi??ncia coisas novas, sabendo que vou deixando tamb??m um bocado de mim em cada s??tio que me fica no cora????o.
Parab??ns por este post!
Style and Life by Marta???
Nuno diz
Um pensamento t??o belo como deprimente… Nunca deix??mos. Aprendemos a ser de v??rios s??tios e a n??o ser de nenhum. Assim n??o estamos totalmente em casa em lado nenhum, mas tamb??m nunca estamos completamente longe de casa.
E o Algarve n??o ?? uma cidade:)
Teresa diz
Adorei, o texto est?? muito bonito e original! Bjs
Daniela Pacheco diz
T??o bonito!!!
Esta vida levam-nos sempre a lugares novos, alguns deles ao qual sempre pertenceremos!
In??s Filipa diz
Soube-me mesmo bem ler este texto. Muito bonito!
raquel diz
Gostei muito desta publica????o. Tamb??m perten??o a tr??s s??tios, a ??vora onde nasci e onde me delicio sempre que l?? volto, a Tavira onde cresci e vivi toda a minha adolesc??ncia e onde volto frequentemente porque ?? onde os meus pais vivem, e a Lisboa, cidade na qual estudo e na qual pretendo continuar a viver.
Ela e Ele Ele e Ela diz
Somos todos cidad??os do mundo! 😛
A Polegarzinha diz
Sinto exactamente o mesmo.
Facilmente me desapego a um lugar para me apegar a outro, mas l?? de vez em quando tenho uma saudade bem portuguesa.
andorinha diz
Muito bonito este texto. Eu tamb??m me sinto assim. J?? fui da aldeia, agora sou da cidade. Mas em todos os s??tios por onde passamos, deixamos sempre um bocadinho de n??s e levamos sempre um bocadinho mais para n??s.
Ju. diz
Esta reflex??o est?? para l?? de incr??vel! Confesso que j?? tinha saudades de textos teus desta ??ndole! (:
Beijinho*
Margarida diz
"Quando ?? que se deixa de pertencer a um lugar para pertencer a outro?" Adoro quando tens destes momentos e escreves estas coisas… Eu acho que deixamos um bocadinho de n??s em cada lugar por onde passamos, especialmente onde fomos felizes, mesmo que apenas um bocadinho. Espero um dia ter a tua coragem e sair da minha concha, e voltar tamb??m a alguns s??tios onde nunca tive oportunidade de realmente ser feliz e amar.
http://blog-flor-mar.blogspot.pt/
Sofia Garrido diz
Das coisas mais bonitas que li pela blogosfera ultimamente, isto que escreveste, Ana!
Realmente nunca deixamos de pertencer a lugar nenhum porque as experi??ncias por que pass??mos moldam-nos, assim como as pessoas que v??o entrando e saindo da nossa vida.
Beijinhos!
Sofia |??Seventeen Seconds
An??nimo diz
Nao e o stio que faz um lar sao as que pessoas com que vivemos no dia a dia que fazem o ser tal ;)live life ate the eage of the sit annie bannenie
Kelly Branco diz
Acho que respondeste ?? tua pr??pria pergunta "por onde quer que passe, deixo sempre um bocadinho de mim nesse s??tio mas tamb??m levo um bocadinho desse s??tio dentro de mim". Mas ?? mesmo disso que a vida ?? feita!
N??s somos um conjunto de todas as experi??ncias que vivemos, a nossa personalidade ?? composta por um pouquinho de todas as pessoas que conhecemos e tudo o que fazemos hoje contribuir?? para a pessoa que nos vamos tornar amanh??.
Somos uma metamorfose constante e isso ?? simplesmente fant??stico! 😉
Diana Machado diz
Passei a minha licenciatura em ??vora e a cidade ficou com um peda??o de mim, e eu trouxe tanto de l??. Queria l?? ter ficado, viveria l?? se pudesse mas tive de vir para Lisboa para Mestrado que j?? n??o havia em ??vora…um pedacinho de mim morreu pelo caminho, sou muito saudosista, ?? um defeito no meu caso.
Nancy Wilde diz
Gostei de ler. Pergunto-me o mesmo quase diariamente. De uma cidade como Lagos, que ?? mais uma vila que outra coisa, para Dublin, uma capital de um pa??s completamente diferente… foi um grande passo. E dou por mim a sentir que aqui ?? a minha casa, e que n??o me imagino noutro lugar… mas quando volto a Lagos, ainda me sinto em casa, de uma maneira nost??lgica. Gostaria de ter sa??do de Lagos mais cedo mas mais vale tarde que nunca. Voltar ?? sempre bittersweet.