AD INFINITUM | 5*

Ai est??s tu, sentada embrulhada na tua capa negra num banco de jardim onde tudo come??ou para ti.
Lembro-me no que sentiste naquele primeiro dia longe de casa: n??o aquele em que chegaste e estava a chover – e o tempo em nada combinava com o teu optimismo – e tiveste de estar cinco horas num Centro de Sa??de ?? espera de um papel que te daria acesso ao teu futuro mas aquele em que estavas, pela primeira vez, sozinha. Deixada ?? tua sorte.

Parece que foi ontem que pisaste pela primeira vez aquela faculdade, de olhos no ch??o, com demasiado receio de enfrentar quem fosse. Conheceste-as ai: uma parecia t??o miser??vel como tu e a outra olhou para ti com um sorriso. ?? engra??ado como olhas para esse dia com nostalgia e te apercebes que tinhas medo de levantar ondas, de falar e de mostrar a tua personalidade. N??o apagaste a tua luz mas fizeste quest??o de a diminuir, de passar entre os pingos da chuva, de ser o mais invis??vel poss??vel.
Isso foi a li????o n??mero um: n??o tenhas medo de ser quem ??s para acomodar os outros.

Depois de uma visita breve ?? faculdade foram todas em fila at?? a um jardim onde acabaste um bocadinho suja e te sentiste um bocadinho overwhelmed com a quantidade de coisas novas que estavas a viver ao mesmo tempo. Sempre foste uma pessoa que demora um bocadinho a se adaptar ??s situa????es e por isso entraste em modo de auto-preserva????o: n??o falavas muito mas observavas bastante, n??o partilhavas muito de ti mas fazias quest??o de conhecer os outros. Foram uns dias dif??ceis para ti – e as dores de joelho pouco oportunas que tiveste n??o ajudaram muito – mas agora olhas para tr??s com alguma saudade disso. Foi esse o dia em que fizeste uma promessa a ti pr??pria de que ias viver mais o momento, que ias deixar de te preocupar se parecesses rid??cula – toda a gente precisa de ser um bocadinho rid??cula de vez em quando.

No teu primeiro semestre deixaste de te sentir um bocadinho orf?? e desamparada quando deste por ti no meio de uma fam??lia um bocadinho disfuncional de seis pessoas que estavam na mesma situa????o que tu e que entraram nas mesmas circunst??ncias. Ficaram t??o pr??ximos nos primeiros dias que nunca mais se largaram – at?? ficaram conhecidos na turma por andarem sempre juntos e sempre que algu??m via um de n??s sabia que os outros n??o estariam muito longe. Aproveita as amizades que vais fazer.

Sei que tinhas medo de imensas coisas: de seres m?? naquilo que fazes, dos est??gios, de tudo aquilo que estava relacionado com a tua futura profiss??o. Mas ningu??m nasce ensinado e, se te correu um bocadinho mal das primeiras vezes, das ??ltimas correu-te tudo bem. Aprendeste que ?? preciso ter calma e paci??ncia e que muitas vezes o stress s?? atrapalha. Respira fundo e relativiza, vais ver que tudo se comp??e.

Fizeram de tudo para te quebrar: horas infinitas, trabalhos e apresenta????es umas atr??s das outras, a expectativa de estares sempre a ser avaliada e julgada pelos teus professores e colegas. Mas tu provaste a toda a gente a fibra de que ??s feita. Agora desatas ??s gargalhadas quando te lembras de uma das primeiras coisas que te disseram quando te viram na faculdade: n??o te imagino a ser enfermeira porque te vestes de preto e usas batom. N??o s?? n??o tinham raz??o como continuas a vestir preto e a usar batom porque ao fim do dia faz parte de ti.

Por isso olha para tr??s. Lembra-te dos bons momentos (e dos maus tamb??m que muito te ensinaram). Em como penaste para entrar onde querias e no que querias e te mataste a estudar mas que, no fim de tudo, conseguiste e n??o deixaste que ningu??m te dissesse que eras uma treta.
Duvidaste de ti, claro que duvidaste, mas conseguiste derrotar o teu pior inimigo: tu mesma e a tua inseguran??a em rela????o a ti e ??s tuas capacidades.
Vais ser do cara??as.
J?? ??s.