Gosto de fotografia desde que me lembro de ser gente. Sempre fui daquelas que levava uma máquina fotográfica descartável para as visitas de estudo e esperava, ansiosamente, pela revelação do rolo. Quando tive a minha primeira máquina fotográfica digital (uma Olympus C-310 Zoom, igual à do meu tio), a paixão aumentou e aprendi a expressar-me através de imagens.
Muitos anos depois, e insatisfeita porque queria mais, arranjei a minha primeira Reflex (uma Canon 600D) que me durou cinco anos e, quando decidi comprar uma nova (uma Canon 6D Mark II), dei um novo lar à minha antiga porque ainda estava em perfeitas condições de fazer alguém feliz.
Pelo meio disto tudo, a fotografia analógica regressou à minha vida. Primeiro através da minha máquina de fotografia instantânea (uma Lomo’Instant) e depois através de uma analógica (uma Praktica TL-1000). Este revivalismo fez-me aprender algumas lições que comecei a levar para a minha vida não fotográfica. E são essas lições que decidi partilhar com vocês hoje.
1. A SER PACIENTE
Lembro-me da altura em que ainda não haviam máquinas fotográficas digitais e tínhamos de ir a um laboratório de fotografia fazer a revelação dos rolos acabando por demorar duas horas até estarem prontos. Na altura isso era considerado muito tempo, até porque haviam uns que faziam revelações express em trinta minutos. Agora… agora depende da loja onde vão e do tipo de rolo e trabalho que querem. Acaba, por demorar, em média três ou quatro dias (no laboratório a que vou).
Isso ensina-nos muito sobre a paciência. Sobretudo agora, numa altura em que estamos tão habituados a sentir gratificação instantânea. As coisas boas levam tempo e, às vezes, até o Universo se alinhar, têm de passar muitas luas cheias.
CARNAXIDE, 2021. PRAKTICA TL-1000 + ILFORD XP2 ISO400
2. QUE NEM TUDO SAI COMO ESTAMOS À ESPERA
A primeira vez que fui revelar um rolo – mais de uma década depois do último – foi um murro no estômago. A máquina tinha sido comprada em Barcelona, com rolo e tudo, portanto acabei por fazer alguns cliques com ela nessa cidade e em Madrid (numa passagem muito rápida a caminho de Portugal). Ao rebobinar o rolo para dentro do canhão, não deve ter ficado totalmente protegido da luz… e vocês imaginam o resto. Quando voltei à loja, toda contente, para ir buscar (aquilo que pensava serem) as minhas fotografias reveladas, sai de lá com um grande e gordo nada. Também já fiquei com um rolo preso na máquina, que resultou em nada.
A imprevisibilidade dos rolos e da fotografia analógica serve par ilustrar também a nossa vida. Porque muitas vezes nem tudo sai como queríamos e/ou era suposto mas não é por isso que se torna menos bonito.
AMSTERDÃO, 2020. PRAKTICA TL-1000 + ILFORD XP2 ISO400
3. A IMPERFEIÇÃO TEM BELEZA/OS ERROS FAZEM PARTE DO PROCESSO
Podem haver vários motivos pelos quais as fotografias que tiramos com uma máquina analógica não fiquem cem porcento como queremos: ou porque temos problemas de foco, ou poque estamos a usar a ASA errada, ou porque não temos o flash e fica muito escura, ou porque aquilo que estamos a fotografar se mexe… há sempre qualquer coisa que pode correr mal e fazer com que o resultado esperado não seja o resultado obtido. Mas não faz mal… às vezes precisamos de ser abanados para percebermos que os erros fazem parto do processo, que a imperfeição (salvo seja) pode tornar as coisas mais bonitas e que, às vezes é tudo o que podemos esperar.
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Que lições é que a fotografia (analógica ou digital) vos ensinou?
Marisa Vitoriano diz
Belas lições. Acho que tenho arranjar uma analógica para ver treino a paciência 😉