Eu ainda não consigo acreditar que já passaram seis meses desde que comecei a trabalhar no sítio onde estou (e na área que sempre quis) e que já sou enfermeira há cerca de oito meses. E enquanto eu sei que isto não é nada comparado com a maioria das enfermeiras que por ai anda (e com 95% das minhas colegas de serviço), não estou a saber lidar com a velocidade a que o tempo passa.
Nestes últimos seis meses aprendi tanta coisa. Existiram lágrimas, suor, sangue, cocó e chichi de recém-nascido, todo o tipo de leite e outros fluídos corporais… mas tem estado a valer a pena. Eu já sabia que os primeiros tempos não iam ser fáceis, durante os dois primeiros meses meti muita coisa em cima da mesa e em perspectiva e, agora, olhando para trás, estou grata por não ter dado muita importância à voz interior que, em momentos de stress, me diz sempre para fugir.
Sei que ainda há muito para aprender e que ainda agora comecei. Não sei onde a vida me vai levar daqui para a frente (mas estamos a fazer figas para continuar neste caminho que foi o que sempre quis), mas aqui ficam algumas coisas que aprendi ao longo destes seis meses desta vida de enfermeira.
1. NÃO ÉS PERFEITA
E ninguém o é. Nem mesmo aquela colega que parece ter tudo sobre controlo ou aquela que nos sabe responder às dúvidas e questões todas que possamos ter. Há turnos em que somos constantemente relembradas que não somos perfeitas e isso pode ser desencorajador mas acaba por servir como lembrança que, no fundo, somos todos humanos e é isso que nos une: as nossas imperfeições e a nossa capacidade de aprender com os nossos erros. E isso é fantástico!
2. TEAMWORK MAKES THE DREAM WORK
Tenho a sorte de ter uma equipa do caraças. Em que sempre que alguma precisa de alguma coisa, existem mais três para ajudar. Não consigo imaginar ter de fazer isto tudo sozinha. Não consigo conceber não ter o apoio das minhas colegas num momento de aflição onde um recém-nascido está engasgado e não reverte, termos de aspirar secreções, fazer lavagens, monitorizar, fazer oxigénio… tanto as minhas chefes de equipa, como as minhas segundos elementos são absolutamente incansáveis. Pegam em nós (mais novas, mais inexperientes) e tratam-nos com paciência e dão-nos tempo (uma coisa que os enfermeiros têm tão pouco) para aprendermos, fazermos e questionarmos. Não só ajudam em tempos de crise, como ainda têm doentes atribuídos e ainda estão sempre lá para nos responder às questões e oferecer conselhos quando estamos incertas relativamente ao que fazer a seguir em determinada situação #GirasDoCabreiro 💛
3. VAIS TER SEMPRE DÚVIDAS E PEDIR AJUDA NÃO É SINAL DE FRAQUEZA
Porque ninguém sabe tudo. Mas, no início, vai ser pior. Os meus primeiros turnos foram um misto de confusão porque sentia que não sabia nada. A faculdade prepara-nos para muito pouco e, quando somos confrontadas com a verdadeira realidade (e não a realidade controlada de um ambiente de estágio), temos de nadar… ou vamos ao fundo. Quando assumi senhoras e respectivos recém-nascidos pela primeira vez sem a supervisão de uma colega mais sénior estava borradinha de medo mas, e voltando a focar no ponto dois, nunca me senti desamparada. É normal ao longo da nossa aprendizagem irmos tendo questões e é importante fazê-las. Não há que ter vergonha. Mais vale perguntar a mesma coisa cinco vezes até sabermos que é mesmo assim do que perguntar uma e fazer asneira.
4. VAIS-TE CRUZAR COM PESSOAS PÉSSIMAS E NÃO FAZ MAL
Tal como em qualquer outro aspecto da nossa vida, nem toda a gente vai ser nossa amiga. Algumas pessoas vão ser mal-educadas, outras não vão oferecer o apoio que esperavas e precisavas, outras não gostam de ver outras a serem bem sucedidas, outras são invejosas e outras simplesmente não vão gostar de ti (ou de ninguém). Algumas pessoas não te vão querer ajudar porque “tens de aprender sozinha” ou “tens de lidar com a realidade” e outras vão-te julgar. E tudo isto é normal porque…
5. EXISTEM PESSOAS QUE TE VÃO ENTENDER
Vais encontrar pessoas que te vão defender quando preciso e que te vão ouvir. Que não compreender as tuas frustrações e vão estar ao teu lado. Vais encontrar pessoas que vão questionar ordens duvidosas, políticas e protocolos estranhos, jantar contigo, convidar-te para coisas fora do trabalho, rir contigo e etc. Essas são as pessoas que vão fazer com que o trabalho se sinta menos trabalhoso.
6. OS DIAS MAUS PODEM SER MUITO MAUS
Apesar do serviço de obstetrícia ser 95% das vezes um sítio feliz, quando as coisas correm mal, mas coisas correm mesmo muito mal. Ninguém está pronto para a perda, seja ela de que forma for. É duro. Ninguém está à espera que uma gravidez ou que um parto corra mal mas… nem sempre é linear.
7. “SÓ DEUS PODE JULGAR”
Às vezes é difícil pormos de parte os nossos preconceitos e ideias pré-definidas. É uma trabalho que temos de fazer constantemente para não cairmos em falso, sobretudo na minha linha de trabalho em que vemos todo o tipo de pessoas e é fácil formar um julgamento.
Os enfermeiros vêem de tudo: a mãe adolescente, a mãe viciada em substâncias, a mãe solteira sem apoio da família, a mãe que acaba por dar o seu bebé para adopção, a mãe com uma situação familiar disfuncional, pais na prisão, casais que tentaram engravidar durante anos e finalmente conseguiram, casais que engravidam através de FIV ou através de outras tecnologias reprodutivas…
É difícil não julgar os outros, mas tenho conseguido. Não sei de onde vieram, o que os motiva e o que se passou na vida deles. Algumas pessoas são resultado do ambiente em que cresceram enquanto outras fizeram más escolhas. Independentemente, não tenho de julgar ninguém. Aquilo que tenho sim de fazer é oferecer o melhor cuidado que posso enquanto estiverem a meu cargo e oferecer a minha compaixão. Toda a gente merece o melhor cuidado que eu consigo oferecer, ponto final.
Ângela diz
Que post incrível Sou estudante de enfermagem e senti que este post quase que poderia ter sido escrito por mim, por tudo o que vivenciei em ensinos clínicos. Algo com que tive de saber lidar recentemente foi que não sei a resposta a todas e mais algumas perguntas que me foram feitas, e não há mal nenhum nisso. Temos é de nos dedicar diariamente a aumentar-mos os nossos conhecimentos. Algo que sinto, é que nós quando começamos o curso, os enfermeiros orientadores e outros enfermeiros, vemos-los “como deuses”, como se soubessem todo o conhecimento do mundo, e é normal que não o tenham. Aliás de mal seria se o tivessem.
Quanto a profissionais, há de tudo em todo o lado, e felizmente tenho encontrado melhores do que menos bons. Mas até os menos bons, têm algo para nos ensinar. A não sermos como eles…
http://arrblogs.blogspot.com/
Ana Garcês diz
Isto de ser enfermeiro é uma viagem que temos de ir fazendo sozinhas – mas nunca sós. Com o tempo (e acredita, é mesmo verdade) vamos ganhando mais confiança e ficando mais segura daquilo que estamos a fazer. Não vamos despreparados das escolas, antes pelo contrário, mas não ter aquele escudo protetor do enfermeiro-orientador é, muitas vezes duro.
É uma profissão exigente, mas vale TANTO a pena <3
Ângela diz
*aumentarmos
Carolayne T. Ramos diz
Aprender a não julgar e colocar a empatia a funcionar por qualquer discernimento é essencial para lidarmos com pessoas, em qualquer que seja a situação. Apesar de não se comparar, trabalhei por uns meses num restaurante e foi ter tido isso em mente que me permitiu engolir sapos, fazer a clientela sorrir e nunca falhar para com o meu trabalho!
És um grande exemplo de resiliência; saber que, não obstante os ‘nãos’ que a vida te deu, quando tentaste vezes sem conta estudar e trabalhar no que querias, ergueste a cabeça, persististe e, hoje, estás onde sempre quiseste estar! Isso é mega inspirador e, enquanto pessoa, fico imensamente feliz por ti, Ana. Muito mesmo! ♥
Desejo-te muita força e sorte para o futuro. Nem sempre será fácil, mas no final de cada dia, estarás sempre apta para ser uma pessoa melhor!
Beijinhos,
LYNE, IMPERIUM BLOG // CONGRESSO BOTÂNICO – PODCAST