É uma e vinte da manhã e estou a escrever isto. Ainda pensei gravar um vídeo para ver se a mensagem se espalharia por mais gente mas, sabendo que sou mais eloquente por escrito, decidi manter-me com aquilo que sei.
É uma e vinte e dois da manhã e estou zangada. Não estou a brincar, antes estivesse. Estou zangada com as pessoas, estou zangada com a sociedade e estou zangada com o Mundo. Estou zangada porque – finalmente – deixei de me preocupar sobre estar zangada sobre uma coisa que me faz ferver. É uma e vinte e quatro da manhã e estou zangada porque infelizmente ainda é necessário falar-se em feminismo e igualdade de géneros em 2018.
É uma e vinte e cinco da manhã da manhã e vocês devem estar a pensar que lá vai ela bater outra vez na mesma tecla. E bato. E vou continuar a bater enquanto for relevante para mim e enquanto as coisas não mudarem.
Uma e vinte e seis da manhã e estou farta. Estou farta de ter que ter cuidado com o que visto, farta de ter cuidado com as horas a que ando na rua, farta de não me sentir em segurança sozinha, farta de ter que olhar por cima do ombro, farta de ter que calar as minhas opiniões porque pode ofender um macho qualquer, farta de ser vista como o sexo fraco, farta que nos agridam, farta que nos violem, farta que não nos paguem igual, farta que não nos respeitem. Estou zangada porque estou farta.
Uma e vinte e oito da manhã e estamos em dois mil e dezoito mas não parece que saímos da idade média. Uma e vinte e nove e estou zangada – e farta – por ter de estar sempre a ter a mesma conversa. A ter que ter cuidado porque nós mulheres temos de nos salvaguardar. Um grande foda-se para essa merda.
Um grande foda-se para as pessoas que acham qualquer tipo de comportamento deste género normal. Que instigam. Que ainda hoje incutem o machismo (e outros -ismos) e que não encontram nada de mal nisso. Um grande foda-se para as ideias extremistas e assustadoras de pessoas com vinte e poucos anos (como eu) e até mais novos que vão ser o nosso futuro. Que futuro de merda.
A LER: Me, too
É uma e trinta e dois da manhã e apetece-me dizer foda-se. Um grande foda-se aos rapazes (que nem se podem chamar de homens) que dizem que quanto mais eles desprezam uma mulher mais ela o quer e às raparigas (que nem se podem chamar de mulheres) que concordam com isso. Um foda-se às raparigas que em vez de se elevarem umas às outras, são mesquinhas, que se acham superiores só porque dominam a lide da casa e acham normal serem reduzidas a isso. Um foda-se às noções erradas e ao ter de ficar calada para apaziguar uns quantos egos.
“Nolite te bastardes carborundorum. Don’t let the bastards grind you down.”
Uma e trinta e seis da manhã e o problema não somos nós. O que é que havemos de dizer às centenas (se não milhares) de mulheres que são agredidas, violadas e a quem, basicamente, lhes tiram os direitos básicos à existência com toques indevidos, comentários inapropriados e tudo aquilo que nos queixamos mas dizem que estamos a exagerar? Não importa que a culpa não tenha sido dela. Ela não vai acreditar porque esse é o tipo de sociedade que temos e que vamos continuar a ser se ninguém fizer nada.
Ensinem as nossas mulheres a se imporem. A dizerem que não, a se posicionarem, a baterem com as mãos na mesa se for preciso. Ensinem-nas a argumentar, a não se deixarem definir por ninguém sem serem elas mesmas e a não se amedrontar. Ensinem-lhes respeito. Aproveitem e ensinem os homens as mesmas coisas.
É uma e quarenta e oito da manhã e continuo zangada porque estou farta de ter sempre de falar das mesmas coisas. E nada mudar. Não peço muito: quero respeito, quero equidade, quero liberdade sem prejudicar as dos outros. Quero educação. Quero tanta coisa que é minha por direito e que, por vezes não tenho. Uma e cinquenta e um e ainda há raparigas – e rapazes – a dizerem que nada disto é preciso. Homens – e mulheres – adultos a se aproveitarem do poder que têm para intimidar e a nos deixarem em posições desconfortáveis.
Uma e cinquenta e sete e continuo zangada. E vou continuar zangada – porque isto não merece que fiquemos apáticos. Uma e cinquenta e oito e…
Cherry diz
Eu li agora a publicação pela segunda vez e ainda me custa muito a digerir tudo. É tudo tão verdadeiro e, por isso, tão revoltante. Agora que falei contigo e sei aquilo que está por detrás desta publicação, ainda mais revolta sinto. O facto de teres tido que pôr este post em privado e depois voltar a publicar só prova o quão o feminismo ainda é necessário. Se assim não fosse, as pessoas nem teriam te insultado da maneira que o fizeram. Pessoas de consicência tranquila com as suas ações não fariam isso.
Dou-te os parabéns pela coragem de escreveres um post tão honesto, cruo e duro. Que isto cause impacto em muitas pessoas e que lhes faça ganhar, pelo menos, alguma noção. Já não vamos lá com falinhas mansas.
Beijinhos
https://www.lifeofcherry.pt/
ᴍᴀʀᴛᴀ ᴍᴀʀᴛɪɴs (@mdemartamartins) diz
Que palavras poderosas e tão verdadeiras .
Sara diz
Quero acreditar que aqueles anónimos dos comentários
ofensivos são apenas um ou dois frustrados que se querem fazer passar por mais (em número e enquanto pessoas). Quero acreditar, a sério, mas não sei se estarei a ser ingénua se o fizer. Não sei o que se passou para escreveres este post, mas acredito mesmo que algo grave deve ter sido. E dou-te os parabéns por não teres calado a tua voz, como tantas vezes acabamos por fazer no dia a dia! Parabéns, precisamos de mais gente como tu!
Ana Garcês diz
Se tu és ingénua então vamos ser as duas porque também quero acreditar que os comentários vieram todos da mente retorcida de uma só pessoa do que de um grupo delas. Mas continua a servir de amostra.
Eu vou-te contar a história do que me levou a escrever esta publicação: li as notícias sobre o quinto caso de violação em Lisboa ontem à noite. Li também que ninguém fez nada. Li ainda os comentários que deixaram nessa notícia – e enervei-me. Depois vi o vídeo do assédio sexual à Ariana Grande (é que nem me digam que não foi) em plena televisão americana e às mãos de um pastor que agora diz que está muito arrependido e que não fez nada de mal – e enervei-me ainda mais. Depois li tweets de pessoas ignorantes que dizem que as mulheres são cidadãos de segunda, que a nossa condição está muito melhor agora (sem terem uma vagina para opinar sobre tal condição) e que não temos que nos queixar. Continuei a me enervar. E depois lembrei-me de todas as coisas que já me fizeram e que eu fiquei calada e… deixei de estar. E escrevi isto.
Depois quase que ia deixar que me fizessem o mesmo outra vez: intimidassem. Perdi a coragem durante umas horas mas depois achei que isto fazia mais bem publicado do que em privado e vesti a minha armadura e cá estamos. Não foi uma coisa, foi um conjunto de coisas.
Por mais gente como eu e por mais gente como tu que, tenho a certeza, também faz a diferença todos os dias! Não estamos sozinhas – temos-nos umas às outras – eles é que gostam de pensar que somos uma ilha e não um fucking continente! ❤️
Adri diz
Não podia estar mais de acordo com tudo aquilo que escreveste. É surreal perceber que em 2018, ainda, tenhamos que ter todos esses receios, cuidados e que sejamos consideradas loucas por não querer continuar a suportar isso mesmo! Acho que este tema deve ser falado as vezes que forem necessárias para que, finalmente, se perceba que basta disto.
Um beijinho,
Adri 🙂
Ana Garcês diz
Exactamente! É 2018 e ainda nos chamam de loucas por nos defendermos e por dizermos que não, batermos um pé e fazermos um escândalo se sentirmos que é preciso. Dois mil e dezoito, não mil oitocentos e dezoito. É surreal!
É preciso juntarmos-nos todas. E sobretudo ensinar mulher e homens sobre o machismo. Porque engana-se quem pensa que os machistas são os homens, há mulheres muito machistas – e é assustador!
Lídia Silvestre diz
Querida Ana, como imaginas, subscrevo a 100% tudo o que escreveste, porque tenho um cérebro (spoiler alert). É inacreditável que, em 2018, isto ainda precise de ser tema de um post e, também, que ainda existam anónimos cobardes. Mede-se a inteligência da interação pela assinatura. Não apagues nem uma letra. Não retires nem uma palavra. Chegaremos lá. Se não for no nosso tempo, que seja no das nossas filhas. Só há um caminho. E é em frente.
Ana Garcês diz
Do not go gentle into that good night, rage against the dying of light. O que eles não sabem é que se for preciso, eu brilho mais que o caraças do Sol!
Márcia - La Femme & Co diz
É inacreditável que este assunto ainda tenha de ser tão falado, mesmo depois da união de todas nós. É inacreditável – e surreal – o facto de não haver qualquer ouvido que nos ouça. Mas este assunto tem de continuar a ser vivido e revivido. Temos de continuar e temos de ser nos e lutar pela nossa verdade. Adorei a tua atitude e é assim que precisamos de ser todas – nós mulheres e as tais raparigas.
Um grande beijinho,
Márcia
La Femme & Co
Ana Garcês diz
Quando a nossa verdade se torna a verdade de 90% da população feminina é sinal que há alguma coisa que tem de ser feita – e rapidamente. Temos de começar por algum lado, nem que seja por mim.
Enquanto pensarem que “as feministas odeiam os homens” ao ponto de invalidarem todo um movimento de igualdade e fazê-lo girar em todo dos homens… temos muito trabalho pela frente!
Matilde Castanho diz
Fiquei chocadíssima ao perceber o mau bocado que passaste por escrever isto. Tens razão em tudo o que disseste e custa, ao ver certas reações às tuas palavras, perceber que ainda temos um caminho muito longo a percorrer!
Muita força, um grande beijinho
Daniela Costa diz
Em nome de todas as mulheres, OBRIGADA POR ESTE TEXTO!
Ana Garcês diz
Don’t let the bastards grind you down ♥
Bruna Reis diz
Ana,
Escrevo-te para te deixar a minha força independentemente da situação que tenhas experienciado. É de facto revoltante. E pior: assustador por não conseguir ver um fim a tudo isto. Mas o que aqui fizeste, apesar de uma gota: é o caminho.
Um beijinho.
Raquel diz
Penso que os comentarios ofensivos que te deixaram so mostra a realidade dos jovens hoje em dia. Que se acham mais e melhor e que tem uma mente demasiado fechada para o seculo em que vivemos. Tudo aquilo que escreveste na tua publicaçao sao factos do mundo em que vivemos em pleno 2018. Tenho pena de certas pessoas acharem que podem ofender as pessoas por expressarem os seus pensamentos e as suas ideias.
Gostei da tua publicaçao e admito que nao fiquei escandalizada por essas pessoas tao pequenas terem feito esse tipo de comentarios, porque e isso que eles sao, pessoas com uma mente demasiado pequenas.
Desejo-te tudo de bom e do melhor e ignora essas pessoas que nao sao nem metade do que tu ou outra pessoa qualquer sao!!
Rita diz
Há sempre uns idiotas a dar o ar da sua graca. Batemos o pé e gritamos mais alto! #togetherwestand
Andreia diz
Ana obrigada por este texto!
Trabalho num bar até de madrugada, já fui insultada, assediada, desrespeitada e já chegou ao cúmulo de ter um homem (se é que lhe podemos chamar isso) a perseguir-me durante vários dias. E ver a maioria das pessoas a considerar este tipo de comportamentos normal deixa-me fora de mim! Não isto não é normal! Nós mulheres merecemos respeito! Nós, que carregamos muitas vezes o mundo nos ombros , merecemos mais.
Não percas a força que te levou a escrever este texto e que todas nós tenhamos essa mesma força sempre que á nossa volta se esquecerem do quão grandes somos.
Miguel diz
Os homens temem o dia em que tiverem de admitir são mais fracos que as mulheres .
Margarida Pestana diz
Miúda, foda-se as mentes doentes e retorcidas. Para bom entendedor, meia palavra basta, e quem não percebe e não se revê neste texto de alguma forma, anda a tapar os olhos com a peneira. Problema deles.
Obrigada por isto! ❤️
Joana Sousa diz
Nunca te cales. Nunca! Foi graças a demasiado tempo de silêncio que cada conquista foi tão dolorosa. E se queremos seguir caminho, temos que falar. Ainda há algum tempo publiquei um texto sobre isto que finalmente conseguiu acordar alguns amigos que, quando lhes contei algo que me tinha acontecido, só responderam com um “oh estás a exagerar, que mal tem isso?”. Só nos podemos calar no dia em que pudermos andar na rua em segurança, recebermos o mesmo pelo mesmo trabalho, não formos o alvo de julgamento pelo que quisermos fazer da vida. Parece que vai demorar, mas havemos de chegar lá!
Ana Garcês diz
Se chegaram agora a esta publicação e estão à procura dos comentários da discórdia, lamento informar-vos mas não os vão encontrar porque os apaguei. Apaguei porque achei que já não fossem necessários, pura e simplesmente. Não quero dar mais tempo de antena a ódio gratuito, a palavras que magoam muita gente. A bem ou a mal serviram o ser propósito: provar que as mulheres – e os homens – são unidos. Que conseguimos mudar as coisas se quisermos. A abrir um diálogo sobre coisas importantes e não só sobre as futilidades do dia a dia (que também são importantes, não me interpretem mal)!
À(s) pessoa(s) que deixaram os comentários: peço desculpa. Não pelo que eu digo nem pelo o que acredito – porque nunca vou pedir desculpa por ter uma opinião -, mas sim por teres um ódio incrível dentro de ti e não fazeres nada para mudares isso. Lamento que tenhas de sentir que tens de insultar alguém que provavelmente não conheces para te sentires melhor contigo mesmo. E que tenhas de te esconder atrás de uma máscara anónima (mas não tão anónima assim) para expressares a tua opinião de forma violenta.
Os comentários ruins podem já não estar neste espaço virtual, mas isso não quer dizer que eles não continuem a existir no espaço real. E isso é o nosso verdadeiro trabalho. Não lhes dou mais espaço aqui porque aquilo que fizemos é muito melhor: criámos um espaço, nesta publicação, para empoderamento feminino e masculino e de toda a gente que acha que as coisas estão más e têm de mudar. Demos um espaço de partilha e de elevação. Demos um espaço para sermos nós – e por isso não fazia sentido manter aquelas palavras de ódio num espaço que ficou carregado de tanto amor e energia positiva.
Posso garantir-vos que os comentários foram nojentos. Que me insultavam de tudo e mais alguma coisa e que quase me roubaram da minha identidade dando-me aqueles rótulos de cobardes que dão a todas as pessoas (maioritariamente mulheres) que ousam sair da norma e dizerem o que pensam. Só sobrevivem agora nos prints que tirei antes de os apagar, para me lembrar sempre, mas memso sempre, que é importante escrever sobre o que me incomoda e para não me deixar ficar.
A partir do momento em que a minha verdada é a verdade de mais 80% da população é sinal que alguma coisa está muito mal e que tem de ser mudada. E é isso que vamos fazendo. O caminho é para a frente e basta uma voz para começar a fazer a diferença.
Obrigada a todos. Sois incríveis. Não deixemos a luz morrer e don’t let the bastards grind you down. Matem-nos com bondade ❤
Marta Fernandes diz
Não sei o que aconteceu, mas na verdade isso já não interessa. O que interessa aqui é continuares a ter a tua voz, a poder falar do que queres, a ter liberdade para pensar, falar, ter opinião.
Percebi que não deve ter sido nada agradável, mas enquanto houver uma mulher que não se cala, há seguramente esperança para todas.
Muita força Ana. Apesar de ter mais idade que tu e de já ter tido más experiências ao longo da vida, isso não me parou nem me deixou sem esperança. E ter dois filhos bem educados e que respeitam as mulheres (todos os seres em geral) deixa-me satisfeita e com esperança na próxima geração.
Beijinhos
Marta
https://pitinhosdamarta.blogspot.com/
Vânia diz
Concordo em absoluto contigo.
Estou zangada e farta.
Como tu tenho que pensar na roupa que uso todos os dias, já que adoro vestidos e saias, mas ando de calças porque trabalho com homens (numa oficina) – que sempre me respeitaram – mas já me previno para não ter que ouvir bocas.
Já me apitaram na rua e a mandar bocas tão deploráveis que os mandei para o caralho em alto e bom som e um senhor até ficou a olhar (se por solidariedade ou não, não sei) mas desfeitei-os em plena rua. Baixei o nível? Baixei mas não quero saber.
Quantas mais mulheres precisam ser espancadas, violadas, abusadas para perceberem de uma vez por todas que é preciso mudar mentalidades? E começa na escola.
No meu tempo de miúda (tenho a mesma idade que tu), os rapazes apalpavam-nos e riam-se enquanto fugiam. Os adultos viam e riam-se, tinha uma piada! Eu fugia para a beira das funcionárias, que me diziam para ir brincar….
Agora. os miúdos mostram as partes íntimas à minha prima de 8 anos e às amigas. A menina vem para casa chocada…
Dizem que é normal: são crianças (rapazes) que já sabem o que é bom…
Realmente a nossa sociedade é uma caca e o que vale é haver pessoas que ainda tentam impôr-se. São essas pessoas que ainda me fazem ter uma esperança no ser humano. Sabes que às vezes penso que tenho medo de ter filhos, sobretudo raparigas? É muito triste.
Temos que nos unir, juntos (sobretudo JUNTAS) somos mais fortes.
[PS que não tem nada a ver: Je suis prest – alusão ao clã Fraser? ^^]
Beijinho
Ana Garcês diz
Obrigada por este comentário. Resumo muito aquilo que quero dizer!
[E sim, sou clã Fraser!]
Vânia diz
Eu também sou clã Fraser :*
Ana, és uma grande pessoa. Obrigada por fazeres chegar às pessoas estas questões, é muito importante 🙂
Inês diz
Não podia concordar mais com as tuas palavras. Estando eu a viver no século XXI custa-me ver que ainda nos deparamos com este tipo de preocupações. Num século em que se preocupam tanto com ordenados ou futebol e tão pouco com mulheres a serem perseguidas, a ter de levar com olhares de homens com idade para serem nossos avôs, a não conseguir ir correr para a rua porque um carro cheio de rapazes pára no meio da rua para mandar piropos,… Enfim,… Infelizmente a lista é interminável, isto tem de acabar. Temos de nos preocupar mais com isto e menos com coisas supérfluas. Esta publicação é MUITO importante !
Joana Rito diz
Olá Ana, e obrigada por este artigo! Ando a ver cada vez mais palavras referidas ao feminismo – e, algumas delas muito importantes no que toca ao verdadeiro conceito da coisa. Obrigada por te focares em pormenores que fazem a diferença, como o facto de o que iremos vestir, o que devemos dizer, mas, sobretudo, a que horas não se deve andar na rua. Sofro muito com isso, com o facto de, se andar na rua já depois das oito horas da noite posso ser assediada ou outra coisa pior, mas se fosse um rapaz a chance de acontecer já seria menor. Sofro com o facto de não poder vestir sequer um top de alças, quanto mais uns calções! – porque deve querer dizer sem sombra de dúvidas, que uma pessoa se anda a mostrar e não porque tem calor e é o que as pessoas normais quando sentem calor vestem. Sofro com o facto que, se responder com maus modos e como me dá na gana a alguém que esteja a mandar um piropo (que não passa de falta de respeito e de imundice da boca para fora e outras coisas mais) sou uma mal educada, mesquinha e exagerada, porque supostamente toda a gente gosta de ser cobiçada e de receber piropos, mesmo que isso obrigue a sermos assobiadas como quando se chamam os cães. Há coisas estapafúrdias que gramamos e engolimos. E o pior é, que mesmo que estejamos contra e queiramos sair à noite à vontade, vestir o que nos apetece sem pensar que temos um bocado de pele à mostra e vamos ser devoradas, ou nos defendermos de maus modos de quem nos ofende, temos aquele reflexo de nos defender porque senão acontece algo de mau, porque o homem sente-se no poder de chegar ao pé de uma mulher e fazer o que lhe apetece, porque sim. Isto assusta. Mal vejo a hora de não ter receio de andar por aí sem que esteja a olhar por cima do ombro.
ps. descobri o teu blog e estou a adorar a maneira como escreves, um beijinho 🙂