Já devem ter reparado que este tópico de os blogs estão a acabar tem sido muito discutido em praça pública. Também já devem ter reparado que as coisas têm andado um bocadinho mais lentas aqui neste velho blog — mas garanto-vos que uma coisa não tem nada a ver com a outra, pelo menos no meu caso.
A verdade é que as maioria das pessoas já não está interessada em blogs e somos poucos os resistentes e idealistas que por aqui continuam a rumar contra a corrente.
Deixem-me explicar.
Como já aconteceu vez atrás de vez na internet, os hábitos das pessoas mudaram. A maneira como elas consomem a informação e o conteúdo online mudou e, de repente, deixaram de partilhar publicações longas (ou nem tão longas assim) porque estavam cansadas de as ver a torto e a direito.
E, apesar de continuar a partilhar a publicação ocasional digna de livro de ficção, passei a misturá-la com outro conteúdo de consumo mais rápido — via Facebook e Instagram. Mas, a verdade, é que o tráfego aqui ao blog tem estado a declinar lentamente há uns anos. No início ainda pensei que a culpa era minha, até que olhei para o grande esquema das coisas.
Leio blogs regularmente? Não tanto como há uns anos, mas sim. No entanto sei que a maior parte das pessoas não pensa assim. A maioria só clica em links de coisas que lhes chamam à atenção mas não têm paciência para procurar activamente coisas para ler. As pessoas — no geral — tornaram-se mais preguiçosas no que toca a consumir conteúdo.
Longe vão os dias em que a grande parte leria todas as frases e mais algumas de uma publicação com atenção e com vontade de fazer mais, agora preferem que as coisas sejam entregues num flash. Em vez de lerem um texto com 500 palavras e uma carrada de imagens, muita gente quer olhar para uma só fotografia, ler uma descrição de 50 palavras e pronto: três segundos em vez de meia hora.
É uma merda, mas é o sinal dos tempos e não há nada de mal nisso. Temos é de aprender a aceitar essa realidade. Sobretudo quando gastamos tempo, a nossa alma e o nosso coração a escrever conteúdo que achamos digno. A produzir imagens. A tentarmos trazer um bocadinho de beleza — ou seja o que for — ao Mundo. Queremos que as pessoas parem e tirem tempo para ler aquilo que escrevemos… e que gostem. E nós queremos fazer o mesmo aos outros.
Mas a realidade é muito diferente. Somos pobres em tempo e não queremos trabalhar por conteúdo na quantidade limitada de tempo que temos. Uma nesga de Wi-fi no metro? Um refresh rápido no Instagram. Uma ida rápida à casa-de-banho? Outro refresh rápido no Instagram. Temos um bocadinho de tempo antes de irmos para a cama? Mais um refresh rápido no Instagram.
É a aplicação que adoramos odiar: ora é o algoritmo, ora o feed não tem ordem cronológica, ora temos bots e seguidores falsos e pouco crescimento mas, aposto com vocês — e não perco — que é a aplicação mais aberta no telemóvel de cada um de nós. É micro blogging e micro vlogging no seu melhor graças às descrições e às stories.
Tornou-se o lugar em que a grande maioria digere pequenos pedaços de informação, moda, beleza e de vida real.
O meu blog vai continuar por cá e eu (façam figas) continuarei a tentar publicar conteúdo regularmente mas não terá o meu foco completo, da maneira como já foi porque, no grande esquema das coisas — não faz sentido.
Portanto: os blogs estão em declínio, sim. Mas isso não é mau. Uma vez que nos dá a possibilidade de experimentar outras coisas e sairmos da caixa. E, tal como outras vezes na internet… quem sabe se não voltam em força?
Nuno Reis diz
Em 2010-12 dizia-se que os blogs estavam a morrer porque os bloggers estavam cansados. Que preferiam escrevr no FB e Twitter. Foi quando começaram a surgir blogs colectivos, onde o trabalho estava dividido.
Com o tempo as pessoas começaram a ser preguiçosas também para ler, mas não foi só isso. Um tema pouco abordado é sobre os papéis de autor e consumidor. Quando a informação era unidireccional, jornais, rádio e tv davam conteúdo e as pessoas consumiam. Lentamente as pessoas começaram a produzir conteúdo com colunas do leitor, fanzines e sites. Quanto mais fácil for publicar, mais gente vai querer ser lida/vista. E quanto mais tempo passa a gerar conteúdo, menos passa a consumir. Quem consume, tem mais por onde escolher. E com a democratização da criação de conteúdo, também desceu a qualidade média. O que faz descer a vontade de ler. Portanto há mais leitores. mas menos interessados e com menos tempo, para mais blogs.
É completamente normal que os blogs tenham menos visitas. A não ser que se tornem autoridades num tema, vão ficar perdidos no meio do lixo.
JU VIBES diz
Concordo plenamente. Já em tempos tive, no auge dos blogues, um cantinho em que o feedback era mais orgânico. Eu sentia que havia quem lá fosse realmente ler o que EU – e aqui reforço o eu – escrevia. Agora o conteúdo tem que ser alarmante para chamar a atenção. É pena, mas ainda assim sou da velha guarda e irei continuar, tal como tu, a escrever. Porque adoro fazê-lo. Talvez a inovar para acompanhar a mudança. Também faz parte.
Sofia Garrido diz
Gostei muito de ler a tua opinião sobre este assunto, Ana!
É particularmente interessante ler sobre isto numa altura em que estou a regressar à blogosfera, depois de um longa ausência, tanto para ler os meus blogs favoritos com mais regularidade como para regressar ao meu próprio blog pessoal, e ainda para começar um outro blog no meu site de fotógrafa.
Obviamente manter dois blogs será muito trabalhoso, por isso ponderei muito sobre o assunto – “Será que devo ficar-me só pelo novo blog, publicar o mesmo tipo de conteúdo do blog pessoal só no instagram?” Foram questões que me coloquei, e fiz a experiência de publicar nesses moldes por lá. A experiência de usar o instagram dessa forma foi muito positiva, mas apercebi-me ao fim de algum tempo que sentia na mesma a falta de desenvolver mais os temas no formato blog, e por isso decidi regressar, mesmo que não consiga publicar com a regularidade de outros tempos para me permitir conseguir criar conteúdo para os dois blogs.
Já vou com a expectativa de o feedback não ser o mesmo como foi em tempos precisamente pela razão que focas – os hábitos de como as pessoas consomem informação/conteúdo mudaram, e as funcionalidades do instagram contriguiram muito para isso.
Tudo isso faz-me valorizar ainda mais os blogs que sigo, as pessoas por trás deles, por rumarem contra a maré! 🙂
Bruna Reis diz
Bom post.
Apesar de concordar contigo, espero que lutes um bocadinho contra esta maré, porque existe muita coisa boa para se ler que não é possível ser transmitida num formato de ‘consumo rápido’.
Espero continuar a ler-te durante muito mais tempo!
ritamartins diz
Acho que os blogs mudaram muito como dizes mas acho que o conteúdo escrito vai continuar.
Será que podemos contar o Medium como ter um blog? Acho que objetivo de ter um blog vai continuar ainda por alguns anos mas as plataformas vão-lhe dar uma diferente forma.
Obvio é que as pessoas vão deixar de criar blogs só porque dão dinheiro. Quem se mete nisto e quer ganhar dinheiro ou ser influencer sabe que leva tempo, estratégia, conhecimentos e por isso há blogs que acabam por deixar de existir. Por mim é bom, porque assim ficam os bons blogs 🙂
O microblogging em Instagram é uma tendência sim. Há bloggers que deixaram de ter blog e agora só têm Instagram ou Youtube. Mas se os algoritmos vão estar a mudar constantemente, ter um blog próprio ou uma plataforma própria poderá ajudar a quem quer-se expressar melhor.
Apercebi-me que já tenho o blog há quase 3 anos e acho uma loucura (nem quero pensar em que tem um há quase 10 anos!!). Acho mesmo que quem faz por gosto não cansa nada e ficaremos cá para ver como é que a coisa corre nos próximos anos 🙂
Marta Fernandes diz
Isto é cíclico e o que é hoje, amanhã já não é. Temos é de ser fiéis às nossas convicções.
Eu continuo a escrever e a mostrar o meu trabalho como sempre, independentemente de ter muitos comentários ou não. O blogue foi a primeira via que tive para mostrar o que faço. Claro que o facebook dá mais visibilidade mas as fotos não são tudo.
Como adoro ler, procuro sempre blogues que me ensinem alguma coisa, tenho paciência para ler tudo o que a pessoa escreveu e comento quando consigo ou me identifico.
Obrigada pelo texto
Marta
https://pitinhosdamarta.blogspot.com/
sweet diz
Ainda gosto de ler blogs, mas é verdade que cada vez mais estão em declínio. Espero que nunca deixes de escrever though 🙂
Micaela Santos diz
Eu criei o meu primeiro blog em 2009, mas nunca fui muito assídua, nem fiz muitas publicações, depois com o apelativo e viciante facebook, deixei mesmo de frequentar. Agora estou de regresso, mas notei uma grande diferença, muitos dos blogs que eu seguia estão inactivos, os resistentes têm poucas respostas às publicações. Mas vou trabalhar um pouco nisso, apesar de tudo, é que sinceramente estou farta do facebook, principalmente de ver o que as pessoas comem!! O instagram, não gosto muito, além de ver a mesma foto lá e de seguida no facebook, não acho nada interessante as pessoas lutarem por ter muitos seguidores, de preferência o número de seguidores tem de ser superior ao numero dos, a seguir, então usam a estratégia de seguir e depois de serem seguidos, deixam de seguir!