Quando era mais nova queria ser médica pediatra. Talvez porque o meu médico era do caraças e respondia todas as minhas perguntas sem paninhos quentes, como se tivesse muito mais idade do que dez anos. Gostava disso. Gostava dele e fiquei triste quando deixei de ter idade para frequentar um médico de crianças.
Quando entrei no Secundário ia fisgada para Enfermagem. Tinha-me passado a ideia de ser médica mas nunca me deixei fugir muito da área, na verdade. Não me lembro de ter dito aos meus pais que queria ser outra coisa sem ser médica (pediatra) ou enfermeira. Não tive a fase bailarina, nem professora, nem astronauta. Mas tive um momento breve no meu (primeiro) décimo segundo em que pensei seguir Relações Internacionais e acabar a trabalhar para a ONU ou para o Parlamento Europeu. Foi sol de pouca dura e muito rapidamente voltei àquele que julguei ser o meu caminho.
Anos depois consegui – finalmente! – entrar no curso que eu jurava a pés juntos ser a minha cara. O primeiro ano passou e metade do segundo também sem eu ter quaisquer dúvidas. Se ficava frustrada para não ter tempo para mais nada e estar sempre a recusar planos? Ficava. Mas varria para debaixo do tapete e seguia com a minha vida.
Entram os estágios. Deixem-me que vos diga: estagiar é uma merda. Desculpem a linguagem mas é verdade. Somos atirados aos lobos sem grande preparação para lidar com as situações porque a teoria é muito bonita, mas não nos prepara a cem porcento para a prática. Nem para cinquenta, quanto mais. Passamos a ter uma vida de turnos em que, por mais que queiramos, não conseguimos aproveitar nada. Se fizermos uma manhã, chegamos a casa ao fim da tarde (com sorte) e já não nos apetece fazer nada. Se fizermos tarde, saimos de casa à tarde e só chegamos ao fim da noite quase a roçar no dia seguinte. Se fizermos noite, caímos na cama às dez da manhã, sem sono porque a altura dele já passou há muito e quando dás por ti tens os olhos vermelhos do esforço e estás acordada há trinta e duas horas. Depois temos justificações para dar de tudo o que fazemos e pensamos. Temos estudos de caso que mais parecem teses de mestrado todas as semanas. E uma privação de sono tão grande, mas tão grande que nem te apercebes que adormeceste encostada à janela do comboio até que o revisor te acorda para picares o passe. E mesmo assim dizem-te que tudo o que fazes não é suficiente, apesar de estares a dar tudo de ti.
Não sei em que ponto é que deixei de ser feliz a ir para o estágio. Nem em que ponto é que me começou a aborrecer sair de casa sempre duas horas mais cedo para chegar ao hospital a horas. E demorei muito tempo até admitir isto a mim mesma e a algumas pessoas porque levei anos a defender com unhas e dentes que era o que queria fazer com a minha vida. No primeiro estágio deixei este sentimento só para mim porque era o primeiro e não tinha grande base de comparação. Esperei melhor do segundo, mas acabei por me sentir igual. Não estou feliz a fazer isto e sei que parece utópico estarmos sempre completamente felizes com o que fazemos, mas temos sempre que ser mais felizes do que infelizes. E eu não sinto isso. Não fui feita para viver por turnos. Continuo sempre a dizer que o próximo vai ser melhor e a adiar a minha felicidade, mas até agora só tenho recebido provas do contrário.
Toda a minha vida sempre tive interesse por muita coisa e isso sempre foi uma bênção e um problema. Bênção porque sei que nunca me vou aborrecer de explorar coisas novas. Problema porque isso dificulta – e muito – a escolha de uma só coisa.
Desde que admiti que não estava a ser tão feliz como devia que ando a fazer um exercício de pensar o que quero fazer da vida: quero ser paga para ler livros, para dizer aqueles que acho que fazem sentidos ou não fazem. Quero ser paga para viajar pelo Mundo, tirar fotografias e partilhar dicas. Quero ser paga para trabalhar em marketing, a ajudar as pessoas a criarem boas campanhas e bons conteúdos. Quero ser paga para ser enfermeira, mas talvez não num hospital nem nos moldes que ando a experimentar. Quero ser paga para ser quem eu quiser ser. Mas depois não sei como começar. Nem por onde. Mas sei que não quero ficar inerte. Muito menos quando me tentam dizer que a minha maneira de pensar é errada e me tentam formatar para pensar igual a toda a gente. Posso aguentar a infelicidade e os horários, mas ninguém vai tocar no meu cérebro.
Nós não devíamos escolher o que queremos fazer da vida quando a nossa vida ainda só está a começar. Porque depois ficamos neste impasse: o que fazer quando não sabemos o que queremos fazer? Eu certamente que não sei. Só sei que não quero fazer isto assim.
Se vieram à procura de um guia fácil para responder à pergunta do título: desculpem, mas eu também não sei.
Carago, mo??a. Essa vida d?? cabo da cabe??a a qualquer um. A ??nica coisa que posso dizer… ?? que nunca vai saber o que queres… ajudei? Provavelmente n??o ahah 🙂 mas acho que ?? mesmo assim. Restless minds like ours…s??o mesmo assim. Os sonhos s??o bonitos mas a realidade passa-nos sempre a perna. V?? se queres agarrar a t??bua de seguran??a que ?? o curso – e j?? que lutaste tanto por ele, pode valer a pena, mesmo com esses hor??rios malucos! – e depois logo v??s. Importa ?? manteres a cabe??a no s??tio. E somos humanos, n??o somos m??quinas, por isso n??o abuses do sistema! For??a e, se precisares de mim, j?? sabes, estou aqui <3
Querida Ana, revi-me em cada uma das tuas palavras. H?? muito que acompanho o teu blogue e sempre achei bonito o teu amor ?? enfermagem. Sou enfermeira h?? oito anos. E n??o sou feliz na totalidade, nem pouco mais ou menos. Quero mudar de vida (e estou a fazer por isso) ou ent??o conseguir trabalhar no centro de sa??de, mas ?? praticamente imposs??vel se n??o tiveres uma especialidade ou um v??nculo pr??vio num hospital p??blico.
Os estagios s??o mesmo uma merda. Lembro-me que, nos meus est??gio do terceiro ano, chorava todos os dias e vomitava antes de come??ar os turnos. N??o desisti por puro orgulho (e porque n??o sabia o que poderia fazer a seguir). Por isso, percebo bem, t??o bem, o que est??s a sentir.
H?? sempre outras oportunidades, outros caminhos. Se eu puder ajudar nalguma coisa, est??s ?? vontade! Um grande beijinho… e for??a 🙂
Catarina
Querida Ana,
Confia no teu instinto! Tamb??m ando a procurar o que ?? que eu quero fazer e que me paguem por isso! A verdade ?? que o segredo da realiza????o est?? no processo. Andamos sempre ?? espera que aquilo que fazemos nos preencha que alcancemos aquilo que lemos em tantos s??tios. Coragem para/na mudan??a ou na perseveran??a de ficar.
Um grande beijinho*
Sei que pode n??o te valer de muito, mas n??o est??s sozinha!
Senti exatamente o mesmo que tu, uma vontade imensa de desistir a cada est??gio hospitalar e uma incapacidade imensa de desistir… Por mais que odiasse n??o conseguia sair.
N??o tinha a paix??o inicial que tinhas, mas a dada altura do curso, apesar do sentimento de querer fugir era incapaz de desistir e virar costas. S?? houve um est??gio que gostei verdadeiramente – USF, sem turnos, perto de casa…
Os outros que fiz nunca me deixaram satisfeita, sentia-me p??ssima por ser avaliada em coisas que eu sabia que n??o sabia, porque nunca tinha feito, porque era demasiado complexo, porque sentia que quando se sentavam connosco n??o era para explicar e sempre para avaliar…
Fui gostando mais de uns, menos de outros, mas achando sempre que era um bicho estranho porque me parecia que todos os outros n??o se queixavam como eu … Sentia que era anormal. Ou era dos turnos, ou era longe, ou a enfermeira era demasiado fria…
A verdade ?? que ao longo do tempo fui associando a minha rea????o aos turnos, aos fins-de-semana longe dos meus, aos feriados a trabalhar… Cheguei at?? a sofrer ao ouvir o hor??rio de enfermeiros que estavam nos servi??os onde estagiava, a sofrer com a possibilidade de no futuro ser eu com aquele hor??rio…
A verdade ?? que n??o consegui n??o fazer o curso, terminei-o, sou licenciada em enfermagem e enfermeira. Consegui um sitio onde tenho um hor??rio sem turnos, sem fins-de-semana ocupados, com feriados em fam??lia, onde posso fazer a enfermagem que gosto e onde estou tamb??m a fazer trabalho administrativo (sinceramente, adoro esta ??ltima parte, foi uma descoberta) 🙂
Ainda n??o sei se ser?? dos turnos, da enfermagem hospitalar, ou do medo de n??o saber tudo aquilo que sentia que me era exigido nos est??gios ou que eu exigia a mim mesma… Mas a verdade ?? que, apesar de tudo, descobri o meu s??tio, onde posso sentir que n??o desperdicei um curso e todos os custos envolvidos e onde consigo ser feliz.
O ??nico sen??o ser?? sempre ter de justificar porque n??o estou num hospital, "onde ganhar??a mais", "onde ?? suposto um enfermeiro estar"…
Mas tem f?? de que tamb??m tu encontrar??s o que fazer quando n??o sabes mais o que fazer.
Confesso, vinha ?? procura de respostas para essa pergunta! Estou no mesmo barco do que tu, n??o na mesma ??rea mas estou tamb??m agora a estagiar e n??o sei mesmo o que quero fazer daqui em diante! Como costumo dizer estou com uma crise existencial mas dias melhores vir??o Ana, acho sinceramente que ?? uma fase e todos n??s passamos por ela 🙂 *
Beijocas,
ANDA DA??!
Tamb??m ando nessa fase (al??m de ter come??ado por algo diferente), ando sem rumo e sem saber que caminho seguir. ?? chato mas deve ser uma nova "crise dos 20 anos"… Espero que seja s?? uma fase e que passe r??pido. N??o estou muito por dentro da ??rea mas talvez n??o tenhas de desistir do teu sonho de ser enfermeira e encontres um trabalho em que n??o tenhas de ser escrava dele 🙂
Beijinhos
J?? te disse, mas repito: podes ser tudo o que quiseres e nunca ter??s de ser s?? uma coisa. 🙂
A Sofia World
Este ver??o termino o secund??rio e, se Deus quiser, no final do ano j?? serei uma estudante universit??ria e, mesmo tendo uma no????o do que quero fazer, morro de medo de tomar a decis??o errada e terminar presa a um emprego do qual n??o gosto
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Como a Rachel Green diz, porque ?? que eu tenho que ser um sapato? E se eu quiser ser um chap??u? Acho que ser diferente e fazer aquilo que nos define, ?? o bom da vida. ?? o que daqui levamos.
Ana C, http://www.adreamersland.com
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Quando come??aste o est??gio, pensei logo que ia ser duro. E tenho seguido de perto as novidades sobre ele. O nosso problema, enquanto jovens, ?? que passamos tanto tempo em livros e escolas que quando encaramos a dura realidade, custa-nos a crer.
Eu tirei o curso que tirei, porque sei que se tirasse o que os meus pais quisessem, ia chegar ao mesmo impasse que tu. Estar onde n??o queria, na ??rea que em nada me preenchia. Hoje trabalho num s??tio bom, apesar de duro (todos os trabalhos o s??o, tenham turnos ou n??o, tudo depende da intensidade dos mesmos) e mesmo gostando daquilo que fa??o e trabalhando um pouco na ??rea, tamb??m tenho grandes d??vidas. Se ?? o que gosto? Sim. Se ?? o que eu me vejo a fazer no futuro? N??o sei, mas j?? l?? estou h?? um ano. :/ ?? um pouco por aqui.
A escola n??o nos prepara para a realidade e ?? por isso que at?? hoje (h?? 2 anos a trabalhar a s??rio, sem ser part-times de ver??o) ainda me custa aguentar o barco algumas vezes 🙂
O importante ?? tentares manter a cabe??a focada e agarrares a coisa com for??a 😀 v?? l??, mi??da, estamos todos a torcer por ti! 😀
Est??s mesmo longe de estar sozinha nisso! N??s estamos totalmente na mesma onda… Achamos que a vida devia ser melhor preparada… ?? uma vida complicada, cheia de escolhas e sem prepara????es correctas. ?? realmente dif??cil… Mas sen??o fosse assim tamb??m n??o teria gra??a alguma! Boa sorte!
O facto de se ir estagiar sem estar preparada na parte da pr??tica parece-me super assustador, confesso!!
Beijinhos
Segui o blog :*
Como sabes, tal como tu, tamb??m estou no 2?? ano de Enfermagem, e tamb??m estou a estagiar. Concordo contigo: estagiar ?? uma merda. Somos mesmo atirados para l?? sem qualquer tipo de prepara????o, e a teoria n??o nos prepara nada para a pr??tica. Mesmo aquilo que aprendi em aulas pr??ticas n??o se compara: na realidade, muitos procedimentos s??o feitos de forma diferente. Outra das coisas que odeio ?? que os enfermeiros n??o est??o l?? para nos ajudar, est??o sempre a avaliar-nos e a massacrar-nos com perguntas. ?? mesmo salve-se quem puder!
Por outro lado, apesar de haver dias em que me apetecia cortar os pulsos a meter os p??s no est??gio, prefiro ver isto tudo como uma oportunidade de aprendizagem. J?? aprendi muito mais em est??gio do que em toda a minha vida escolar. Estagiar ( sobretudo no ??ltimo servi??o em que estagiei, em Oncologia), d??-nos uma experi??ncia profissional e de vida, e um crescimento pessoal e maturidade, que uma simples sala de aula nunca nos dar??. E isso faz todo este esfor??o valer a pena!
Tal como tu, encontro-me neste momento a questionar-me se estou realmente no curso certo, se ?? isto que quero fazer para a minha vida. Por??m, acho que, dado a carga emocional e a exig??ncia do nosso curso, ter d??vidas ?? normal. J?? tive vontade de desistir mil vezes num dia de est??gio, quanto mais no est??gio todo ahahahah xD. Mas tenho um bichinho aqui dentro que ainda n??o me deixou desistir, e ainda sinto no cora????o amor ?? profiss??o.
Desculpa l?? o testamento, mas j?? estou a acabar. Isto tudo para dizer o qu??: N??o desistas, Ana, porque isto ainda ?? o in??cio, e os est??gios s??o mesmo a pior fase. Quando trabalharmos, nada ser?? assim, n??o estaremos a ser "torturados" como estamos a ser. Al??m disso, enfermagem ?? uma ??rea muito extensa, n??o precisas de trabalhar obrigatoriamente num hospital. Eu estou a considerar essa hip??tese, dado que n??o sei at?? que ponto me darei bem com turnos.
Se um dia descobrires que isto n??o ?? mesmo para ti, vais sempre a tempo de mudar :). Por??m, tal como a Sofia j?? te disse e muito bem: " podes ser tudo o que quiseres e nunca ter??s de ser s?? uma coisa".
Muito for??a e boa sorte para os est??gios :).
Beijinhos,
Cherry
Concordo tanto contigo e revejo-me nas tuas palavras. Acabei o secund??rio o ano passado e n??o fui para a universidade por v??rias razoes mas uma delas ?? por n??o saber o que seguir. E tamb??m n??o ia para um curso qualquer s?? porque TEMOS DE IR PARA A UNIVERSIDADE. Estive a trabalhar durante 6 meses mas neste momento n??o fa??o nada e estou mesmo perdida na minha vida sem saber o que fazer. Acho que o melhor ?? mesmo viver um dia de cada vez e ver o que a vida nos tr??s.
Beijinhos!!
Black Rainbow Instagram
J?? somos duas sem resposta e se os conselhos fossem bons n??o se davam, vendiam-se mas posso sempre partilhar contigo a minha experi??ncia.
Entrei para a faculdade aos 17 anos (e porra! com 17 anos j?? tenho que saber tudo o que quero fazer!?) e sempre trabalhei enquanto estudei. Era agrad??vel ter o meu dinheiro mas mais agrad??vel que isso foi o curriculum que foi criando e a experi??ncia que acumulei. Umas boas, outras nem tanto, mas todas me permitiram ficar um pouco mais perto de descobri o que quero fazer e, especialmente, do que n??o quero fazer.
Escolhi o meu curso de engenharia pela "sa??da" e palas oportunidades que me iria proporcionar mas do que adianta teres um curso com "sa??da" sem nem procuras trabalho na ??rea porque n??o gostas?
Terminei por pura teimosia. Porque n??o queria desistir nem deixar nada a meio. Se fosse hoje, n??o o terminava. Andei demasiado tempo infeliz, sempre tive trabalho e nem procurei trabalho na ??rea. E s?? pe??o que consiga ter sempre trabalho sem recorrer ao curso, porque n??o me cativou nada…
Gosto muito deste tipo de publica????es e sei o que sentes, porque quando fui ?? entrevista para o trabalho que estou a fazer agora sentia-me muito entusiasmada… Agora s?? quero que acabe porque ao fim de algum tempo o entusiasmo foi-se e ficou toda a frustra????o e ang??stia de afinal estar a fazer algo que n??o me faz feliz e me deixa esgotada. Felizmente h?? sempre o dia de amanh?? e vamos sempre a tempo de mudar 🙂
http://www.meeksheep.com
Como eu te compreendo!
(^ .^)
Ana Teles {Telita} | blog Telita LifeStyle ??? Facebook ??? instagram ??? Twitter ??? bloglovin' ??? Pinterest ??? flickr ??? blogger
??? posts novos todos os dias ???
??? comento sempre que visito!
??? na p??gina de Facebook publico dicas e promo????es que n??o v??o parar ao blog!
??? novo grupo para divulga????o de blogs: blogs Lifestyle Portugal/